Os dois principais partidos estão divididos em relação a quem deve assumir a liderança, enquanto grandes empresas multinacionais começam a anunciar a suspensão de investimentos no país
Por Maria Luísa Cavalcanti
- correspondente da RFI* em Londres
Na quinta-feira (30), o país foi tomado de surpresa pela notícia de que o ex-prefeito de Londres, Boris Johnson, desistiu de se candidatar à liderança do Partido Conservador. Johnson era visto como o favorito nessa eleição interna, que poderia levá-lo ao cargo de primeiro-ministro.
Há várias especulações sobre os motivos pelos quais ele desistiu de tentar a liderança dos conservadores. Johnson foi praticamente o grande nome da campanha oficial pela saída do Reino Unido da União Europeia, e há muito tempo já era apontado como o favorito para suceder David Cameron no topo do partido.
Alguns analistas até dizem que Johnson só apoiou o Brexit para conseguir tomar o lugar de Cameron. Mas na quinta-feira ele anunciou que não é a pessoa ideal para unificar o partido e liderar o país durante o processo de saída do bloco europeu.
Horas antes, o principal aliado de Johnson, o ministro da Justiça Michael Gove, anunciou que ele próprio iria concorrer nas eleições internas porque acredita que o ex-prefeito não é a pessoa certa para o cargo. Alguns especialistas dizem que, de fato, Johnson era uma figura polêmica dentro do partido.
Outros acham que Gove simplesmente apunhalou o parceiro pelas costas. O fato é que agora cinco pessoas se candidataram a assumir a liderança dos conservadores. Até terça-feira que vem, os parlamentares do partido devem escolher dois deles para serem apresentados para o restante dos membros na conferência anual marcada para setembro.
Além de Michael Gove, a candidata com mais força é a ministra do Interior, Theresa May, que, junto com David Cameron, apoiou a campanha pela permanência do Reino Unido na União Europeia.
Partido Trabalhista também enfrenta crise
O Partido Trabalhista, que é a principal força de oposição, também está diante de uma grande crise interna. É difícil prever o futuro deles nesse estágio. O líder trabalhista, Jeremy Corbyn, foi duramente criticado dentro do partido, acusado de não ter se mobilizado o suficiente para conseguir apoio para a campanha pela permanência do Reino Unido na União Europeia.
O Brexit venceu em alguns dos principais redutos trabalhistas do norte da Inglaterra, o que também foi visto com maus olhos pelos parlamentares do partido. Vários dos ministros do gabinete paralelo de Corbyn renunciaram durante a última semana, e os parlamentares trabalhistas votaram por uma moção de não-confiança contra ele, o que abriria caminho para outros membros do partido tentarem ganhar apoio interno para desafiar formalmente a liderança de Corbyn.
Mas ele insiste que não vai renunciar à liderança. No início da semana, milhares de pessoas se reuniram diante do Parlamento para protestar contra a saída de Corbyn. E há relatos de que 60 mil pessoas se afiliaram ao partido nestes últimos dias, em uma tentativa de demonstrar apoio a ele. Portanto, o futuro de Corbyn e do Partido Trabalhista como um todo ainda está bastante incerto.
Desvalorização da libra e tensão nos mercados
Outro impacto instantâneo da vitória do Brexit foi a desvalorização da libra e uma enorme tensão nos mercados. Muitas empresas reagiram dizendo que vão fechar postos de trabalho no Reino Unido.
A Bolsa de Londres abriu com ganhos nesta sexta-feira (1°) pelo terceiro dia consecutivo, depois que o presidente do Bank of England, o Banco Central do país, disse que a entidade pode intervir se a situação das ações e da moeda continuar com a turbulência sentida na semana passada.
A libra subiu um pouco em relação à quinta-feira, mas continua bem mais abaixo dos valores registrados antes do referendo. Vários setores da economia continuam tentando entender como fica sua situação daqui para a frente, depois que o Reino Unido sair definitivamente do bloco.
O Sindicato Nacional de Agricultores se reúne nesta sexta-feira para fazer exigências ao governo para manter o setor competitivo. Indústrias multinacionais também se dizem preocupadas e já deram indícios de que poderão fechar suas fábricas no Reino Unido. As universidades também fizeram um apelo para que o futuro governo mantenha o direito de permanência de cerca de 30 mil cientistas europeus que hoje atuam nessas instituições.
E até mesmo a associação dos diretores de escolas primárias e secundárias alertaram para o medo de que alunos estrangeiros venham a sofrer preconceito ou ter seus estudos prejudicados pelo Brexit.
* Rádio França Internacional